31º Domingo do Tempo Comum - Ano C
A liturgia deste domingo convida-nos a contemplar o quadro do amor de Deus. Apresenta-nos um Deus que ama todos os seus filhos sem excluir ninguém, nem sequer os pecadores, os maus, os marginais, os “impuros”; e mostra como só o amor é transformador e revivificador.Na primeira leitura um “sábio” de Israel explica a “moderação” com que Deus tratou os opressores egípcios. Essa moderação explica-se por uma lógica de amor: esse Deus omnipotente, que criou tudo, ama com amor de Pai cada ser que saiu das suas mãos – mesmo os opressores, mesmo os egípcios – porque todos são seus filhos.O Evangelho apresenta a história de um homem pecador, marginalizado e desprezado pelos seus concidadãos, que se encontrou com Jesus e descobriu nele o rosto do Deus que ama... Convidado a sentar-se à mesa do “Reino”, esse homem egoísta e mau deixou-se transformar pelo amor de Deus e tornou-se um homem generoso, capaz de partilhar os seus bens e de se comover com a sorte dos pobres.A segunda leitura faz referência ao amor de Deus, pondo em relevo o seu papel na salvação do homem (é dele que parte o chamamento inicial à salvação; ele acompanha com amor a caminhada diária do homem; ele dá-lhe, no final da caminhada, a vida plena)... Além disso, avisa os crentes para que não se deixem manipular por fantasias de fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho normal do cristão.
LEITURAS
Livro de Sabedoria 11,22-26.12,1-2.
Pois diante de ti, o mundo inteiro é como um grão de areia na balança, como a gota de orvalho que de manhã cai sobre a terra. Mas Tu tens compaixão de todos, pois tudo podes e desvias os olhos dos pecados dos homens, a fim de os levar à conversão. Tu amas tudo quanto existe e não detestas nada do que fizeste; pois, se odiasses alguma coisa, não a terias criado. E como subsistiria uma coisa, se Tu a não quisesses? Ou como se conservaria, se não tivesse sido chamada por ti? Mas Tu poupas a todos, porque todos são teus, ó Senhor, que amas a vida! O teu espírito incorruptível está em todas as coisas! Por isso, pouco a pouco corriges os que caem, os admoestas e lhes recordas o seu pecado, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.
Livro de Salmos 145(144),1-2.8-9.10-11.13.14.
Exaltarei a tua grandeza, ó meu rei e meu Deus; hei-de bendizer o teu nome para sempre. Todos os dias te bendirei; louvarei o teu nome para sempre. SENHOR é clemente e compassivo, é paciente e misericordioso. SENHOR é bom para com todos; a sua ternura repassa todas as suas obras. Louvem-te, SENHOR, todas as tuas criaturas; todos os teus fiéis te bendigam. Dêem a conhecer a glória do teu reino e anunciem os teus feitos poderosos, teu reino é um reino para toda a eternidade e o teu domínio estende-se por todas as gerações. SENHOR ergue todos os que caem e reanima todos os abatidos.
2ª Carta aos Tessalonicenses 1,11-12.2,1-2.
Eis por que oramos continuamente por vós: para que o nosso Deus vos torne dignos da vocação e, com o seu poder, a vossa vontade de bem e a actividade da vossa fé atinjam a plenitude, de modo que seja glorificado em vós o nome de Nosso Senhor Jesus e vós nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. Acerca da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e da nossa reunião junto dele, pedimo-vos, irmãos, que não percais tão depressa a presença de espírito, nem vos aterrorizeis com uma revelação profética, uma palavra ou uma carta atribuída a nós, como se o Dia do Senhor estivesse iminente.
Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um pecador. Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais.» Jesus disse-lhe: «Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.»
Comentário ao Evangelho do dia feito por Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, Doutora da Igreja Carta 137, à sua irmã Celina (in OC, Cerf DDB 1992, p. 452)
«Zaqueu, desce depressa»
Jesus juntou-nos, se bem que por caminhos diferentes; juntas nos elevou acima de todas as coisas frágeis deste mundo, de todas as coisas que passam; por assim dizer, colocou todas as coisas debaixo dos nossos pés. Como Zaqueu, nós subimos a uma árvore para ver Jesus. Então poderíamos dizer como São João da Cruz: «Tudo é meu, tudo é para mim, a Terra é minha, o Céu é meu, Deus é meu e a Mãe do meu Deus é minha». [...]Celina, que mistério é a nossa grandeza em Jesus! Eis tudo o que Jesus nos mostrou ao fazer-nos subir à árvore simbólica de que eu falava há pouco. E agora, que ciência irá Ele ensinar-nos? Não nos ensinou já tudo? Ouçamos o que Ele nos diz: «Apressem-se a descer, hoje tenho de ficar em vossa casa». Pois é! Jesus diz-nos para descermos. Mas para onde devemos descer? Celina, sabe-lo melhor do que eu, mas deixa-me dizer-te para onde devemos agora seguir Jesus. Outrora, os judeus perguntaram ao nosso divino Salvador: «Mestre, onde moras?» e Ele respondeu-lhes: «As raposas têm as suas tocas, as aves do céu os seus ninhos e Eu não tenho onde reclinar a cabeça» (Mt 8,20). Eis para onde devemos descer para podermos servir de morada a Jesus: sermos tão pobres que não tenhamos onde reclinar a cabeça.
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