4ª semana do SaltérioOfício dominical comum.Missa própria: Glória, Credo, Prefácio dos domingos comuns.
Hoje a Igreja celebra : S. Paulino de Nola (bispo, +431)
S. João Fisher (bispo mártir, +1535)
S. Thomas More (leigo mártir, +1535)
João Fisher, nasceu no ano de 1469, estudou em Cambridge (Inglaterra) e foi ordenado sacerdote. Mais tarde, foi nomeado bispo de Rochester, cargo que exerceu com uma vida de grande austeridade e intenso zelo apostólico, visitando com frequência os seus fiéis. Escreveu também diversas obras contra os erros do seu tempo.Foi decapitado em 1535 por ordem do rei Henrique VIII, por se ter recusado a ceder na questão da pretendida anulação do seu matrimónio. Enquanto estava no cárcere, foi designado cardeal pelo papa Paulo III.
Thomas More, Inglês, nascido em 1477, foi decapitado em Londres, por ordem de Henrique VIII pela sua fidelidade à Sé apostólica romana. Estudou na Universidade de Oxford. Era de carácter extremamente simpático. De honrada burguesia, filho de um juiz. Foi pajem do arcebispo de Cantuária. Pai de família, teve um filho e três filhas. Era jurista e amigo de Erasmo, que lhe dedicou a sua obra-prima: "O Elogio da loucura". Foi nomeado chanceler do Reino. Deixou várias obras escritas, versando sobre negócios civis e liberdade religiosa. A sua obra mais conhecida intitula-se "A Utopia" (vocábulo grego que significa: em parte nenhuma). Opôs-se duramente ao divórcio de Henrique VIII, que desejava anular seu primeiro casamento a fim de casar-se com Ana Bolena. Recusou-se a comparecer aos cerimoniais de coroação da nova rainha. Por ordem do rei, foi preso e lançado na Torre de Londres. Na prisão escreveu Diálogo do Conforto nas Tribulações. Mesmo condenado à forca, não perdeu o seu peculiar bom humor cristão, sua naturalidade e simplicidade. No dia da execução, pediu ajuda para subir ao cadafalso. E disse ao povo: "Morro leal a Deus e ao Rei, mas a Deus antes de tudo". E abraçando o carrasco, disse: "Coragem, amigo, não tenhas medo! Mas como tenho o pescoço muito curto, atenção! Está nisso a tua honra!" E pediu para que não lhe estragasse a barba, porque ela, ao menos, não cometera nenhuma traição. Morreu no dia 6 de Julho de 1535. Foi beatificado em 1886 por Leão XIII e canonizado em 1935 por Pio XI.
Leitura do Livro do profeta Jeremias:
Livro de Salmos 69(68),8-10.14.17.33-35
- Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!
- Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!
- Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!
- Atendei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!
Carta aos Romanos 5,12-15
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos:
Naquele tempo, disse Jesus a seus apóstolos:
Comentários
Tende temor, mas não tenhais medo
O Evangelho deste domingo oferece várias sugestões, mas todas podem se resumir nesta frase aparentemente contraditória: «Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno». Não devemos ter temor nem medo dos homens; de Deus devemos ter temor, mas não medo.
Portanto, há uma diferença entre medo e temor; tentemos compreender por que e em que consiste. O medo é uma manifestação de nosso instinto fundamental de conservação. É a reação a uma ameaça para nossas vida, a resposta a um verdadeiro ou suposto perigo: desde o perigo maior, que é o da morte, aos perigos particulares que ameaçam a tranqüilidade ou a incolumidade física, ou nosso mundo afetivo.
Segundo se trate de perigos reais ou imaginários, fala-se de medos justificados e de medos injustificados ou patológicos. Como as doenças, os medos podem ser agudos ou crônicos. Os medos agudos foram determinados por uma situação de perigo extraordinária. Se estou a ponto de ser atropelado por um carro, ou começo a sentir que a terra treme sob meus pés por causa de um terremoto, então estou diante de medos agudos. Esses sustos surgem improvisadamente, sem avisar, e assim desaparecem ao terminar o perigo, deixando talvez uma má recordação. Os medos crônicos são os que convivem conosco, que se convertem em parte de nosso ser, e inclusive acabamos nos acostumando com eles. Nós os chamamos de complexos ou fobias: claustrofobias, agorafobia, etc.
O evangelho nos ajuda a libertar-nos de todos estes medos, revelando o caráter relativo, não absoluto dos perigos que os provocam. Há algo de nós que ninguém nem nada no mundo pode tirar-nos ou ferir: para os fiéis, trata-se da alma imortal; para todos, o testemunho da própria consciência.
Algo muito diferente do medo é o temor de Deus. O temor de Deus se aprende: «Vinde, filhos, escutai-me: eu vos instruirei no temor do Senhor» (Salmo 33, 12); pelo contrário, o medo, não tem necessidade de ser aprendido no colégio; a natureza se encarrega de infundir-nos medo.
O mesmo sentido do temor de Deus é diferente do medo. É um elemento de fé: nasce da consciência de quem é Deus. É o mesmo sentimento que se apodera de nós diante de um espetáculo grandioso e solene da natureza. É o sentimento de sentir-nos pequenos diante de algo que é imensamente maior que nós; é surpresa, maravilha, mescladas com admiração. Diante do milagre do paralítico que se levanta e caminha, pode ler-se no evangelho, «o assombro se apoderou de todos, e glorificavam a Deus. E cheios de temor, diziam: hoje vimos coisas incríveis» (Lucas 5, 26). O temor, neste caso, é o outro nome da maravilha, do louvor.
Este tipo de temor é companheiro e aliado do amor: é o medo de desagradar o amado que se pode ver em todo verdadeiro enamorado, também na experiência humana. Com freqüência é chamado «princípio de sabedoria», pois leva a tomar decisões justas na vida. É nada mais e nada menos que um dos sete dons do Espírito Santo (cf. Isaías 11, 2)!
Como sempre, o evangelho não só ilumina nossa fé, mas nos ajuda também a compreender nossa realidade cotidiana. Nossa época foi definida como uma época de angústia (W. H. Auden). A ansiedade, filha do medo, converteu-se na doença do século e é, dizem, uma das principais causas da multiplicação dos infartos. Como explicar este fato se hoje temos muitas mais seguranças econômicas, seguros de vida, meios para enfrentar as enfermidades e atrasar a morte?
O motivo é que diminuiu, ou totalmente desapareceu em nossa sociedade o santo temor de Deus. «Já não há temor de Deus!», repetimos às vezes como uma expressão, mas que contém uma trágica verdade. Quanto mais diminui o temor de Deus, mais cresce o medo dos homens! É fácil compreender o motivo. Ao esquecer de Deus, colocamos toda a nossa confiança nas coisas daqui debaixo, ou seja, nessas coisas que, segundo Cristo, o ladrão pode roubar e a traça pode comer (cf. Lucas 12, 33). Coisas aleatórias que nos podem faltar em qualquer momento, que o tempo (a traça) come inexoravelmente. Coisas que todos queremos e que por este motivo desencadeiam competição e rivalidade (o famoso «desejo mimético» do qual fala René Girard), coisas que é preciso defender com os dentes e às vezes com as armas na mão.
A queda do temor de Deus, em vez de libertar-nos dos medos, impregnou-nos deles. Basta ver o que acontece na relação entre os pais e os filhos em nossa sociedade. Os pais abandonaram o temor de Deus e os filhos abandonaram o temor dos pais! O temor de Deus tem seu reflexo e seu equivalente na terra no temor reverencial dos filhos pelos pais. A Bíblia associa continuamente estes dois elementos. Mas o fato de não ter temor algum ou respeito pelos pais faz que os jovens de hoje sejam mais livres ou seguros de si? Sabemos que não é assim.
O caminho para sair da crise é redescobrir a necessidade e a beleza do santo temor de Deus. Jesus nos explica precisamente no evangelho que a confiança em Deus é uma companheira inseparável do temor. «Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais».
Deus não quer provocar-nos temor, mas confiança. Justamente o contrário daquele imperador que dizia: «Oderint dum metuant»(que me odeiem tanto até que me temam!). É o que deveriam fazer também os pais terrenos: não infundir temor, mas confiança. Dessa forma se alimenta o respeito, a admiração, a confiança, tudo o que implica o nome de «santo temor».
Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap., pregador da Casa Pontifícia
[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri/ZENIT]
Nenhum comentário:
Postar um comentário